Medos de contaminação por coronavírus, desemprego e isolamento social tem agravado casos de depressão pós-parto e afetado a saúde mental de gestantes, explica especialista

A chegada de um bebê em geral é associada a um momento de alegria, romantismo e amor. Porém é também repleto de inseguranças quanto ao parto, à saúde da mãe e da criança que está a caminho. Com a pandemia da Covid-19 e a necessidade de isolamento social, essas inseguranças foram acentuadas e com elas o nível de sofrimento psíquico de gestantes e puérperas.

Para a psicóloga e professora do curso de Psicologia Estácio, Rafaela Marciano, muitas mulheres já tinham algum nível de sofrimento psíquico no período pré e pós-parto e esse sofrimento foi potencializado pela quarentena.

 “Tudo aumentou: o medo, a ansiedade, a preocupação, a irritabilidade. As restrições de convívio social ampliaram o sentimento de solidão durante esse período de extrema sensibilidade para as mulheres”, explica a profissional.

A especialista ressalta que para cada mulher a gravidez é uma experiência individual e única, no entanto, é comum nesse período que emoções como alegria, medo e incertezas coexistam. “Muitas mulheres sentem alegria e entusiasmo com a descoberta da gravidez, enquanto para outras a felicidade está misturada com preocupação, incertezas e medo. Então, o primeiro passo é entender que essa ambivalência de sentimentos é normal e esperada para esse momento”, enfatiza.

O pré-natal psicológico é fundamental. “É importante participar de grupos de gestantes para trocar dicas e experiências com outras gestantes e profissionais da saúde, fortalecer os laços e a rede de apoio que irá auxiliar a mulher nesse período da gestação, parto e puerpério. Principalmente porque com a pandemia até mesmo participar desses grupos é algo que precisa ser planejado de acordo com as restrições do momento”, sugere a professora da Estácio.

Solidão e medo da contaminação

Com a pandemia, se tornou comum entre gestantes e puérperas um aprofundamento do sentimento de medo com a possibilidade de contaminação pela Covid-19 e a solidão materna. Com o isolamento social foi necessário o distanciamento de amigos e familiares, o que não só aumentou a ansiedade como gerou um estresse contínuo. Outro problema é o receio de estar em ambientes hospitalares durante as consultas e exames que integram o pré-natal. “Algumas gestantes também podem deixar de comparecer às consultas de pré-natal por medo da exposição ao vírus, o que pode prejudicar a saúde materno-fetal”, afirma Rafaela Marciano.

Depressão pós-parto e os cuidados com a pandemia

Apesar dos medos e inseguranças comuns a respeito das escolhas sobre o parto, o momento é sempre de celebração. No entanto, um dos principais cuidados para impedir que o recém nascido seja exposto ao vírus é evitar as visitas. E mesmo quando alguns familiares visitam o bebê em casa, precisam usar máscaras e evitar o contato físico com o novo integrante da família. Lidar com todos esses cuidados pode ser estressante.  

“Os pais também, ao manifestar algum sintoma gripal, precisam usar a máscara quando estiverem em contato com o bebê, além de fazer a higienização adequada das mãos e do seio materno antes e após a amamentação ou ordenha do leite”, lembra a psicóloga Rafaela Marciano. Além disso, não é recomendável sair de casa com o bebê, apenas para as consultas e exames neonatais.

Para evitar a ansiedade e depressão diante de todas essas restrições durante o período de pós-parto, é aconselhável que se crie uma rotina para amenizar os impactos. Com o apoio da família e  do  companheiro,  além de manter  os  laços  sociais,  mesmo  estando  fisicamente  distante, especialmente por meio das plataformas digitais. 

“A depressão pós-parto pode surgir nas primeiras semanas após o nascimento, mas também pode ocorrer meses depois, sendo os três primeiros meses o período mais crítico. Os  sintomas  incluem  humor  deprimido, choro  fácil,  irritabilidade, perda  de interesse pelas atividades habituais, sentimentos de culpa, dificuldade de concentração, insônia, perda do apetite, dificuldade de se relacionar com as pessoas e com o bebê”, explica a especialista.

No entanto, Rafaela ressalta a importância de identificar as diferenças entre estar deprimida e estar muito cansada, o que é esperado nessa fase. “É comum haver sobreposição entre os sintomas da depressão e as demandas próprias da maternidade. A persistência dos sintomas por mais de duas semanas  sugere  a  evolução  para  um  quadro  depressivo  mais  grave  que  requer acompanhamento de uma equipe de saúde mental”, finaliza. —

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